12 de maio de 2012

Assim se sentia ela sem ele,

A cada instante lhe vinham à mente as tantas perguntas cotidianas que só ele podia responder. Certa vez ele dissera algo que ela não podia conceber: os amputados sentem dores, cãibras, cócegas, na perna que não têm mais. Assim se sentia ela sem ele, sentindo que estava onde não se encontrava.


Gabriel G. Marquez - O amor nos tempos do coléra.

9 de maio de 2012

Vou me acostumar, João.




no fim tem sempre um machucado e tem sempre alguém mais machucado.
não é algo exato. quem deu, deu. e quem pegou, pegou tudo aquilo que existia.
não conta mais saber quem tem razão.
não conta ter a última palavra agora.

e no fim não é nunca o fim.
mas alguns fins duram um pouco mais.
de agora para frente é possível somente andar, cada um por si levando na sua bagagem aquilo que existia.
e os escombros depois do mau tempo transformam lindas lembranças em desprazer.




vou me acostumar a não te encontrar.
vou me acostumar a me girar e não te ver.
vou me acostumar e não te pensar. quase nunca.


Extraído de: Meu (des)mundo.: - vou me acostumar;

2 de maio de 2012

Te vejo em sonhos, João.

Esta noite você veio me visitar em sonhos. Há muito tempo você nao vinha.
 No sonho dançávamos abraçados e você me cantava ao pé do ouvido: Ela que tem o rosto que eu não posso esquecer, um traço de prazer ou arrependimento, pode ser meu tesouro ou o preço que eu tenho que pagar. Ela pode ser a música que o verão canta, pode ser o frio que o outono traz, pode ser cem coisas diferentes no decorrer de um só dia. Ela pode ser a bela ou a fera, pode ser a fome ou o banquete, pode transformar cada dia em um paraíso ou em um inferno. Ela pode ser o espelho dos meus sonhos, um sorriso refletido em um riacho. Ela pode não ser o que ela pode parecer dentro da sua concha. Ela que sempre parece tão feliz no meio da multidão, seu olhar podem ser tão secreto e tão orgulhoso e ninguem pode vê-lo quando ele chora. Ela pode ser o amor que não pode esperar para durar, pode ser a sombra do passado que eu vou me lembrar até o dia que eu morrer. Ela que pode ser a razão pela qual sobrevivo, o porque e o motivo de eu estar vivo, a única que eu vou cuidar sempre ao longo dos anos e durante as adversidades. Eu vou pegar as risadas e as lágrimas dela e farei delas todas as minhas lembranças. Para onde ela for, eu tenho que estar. O sentido da minha vida é... Ela, ela, ela.
E eu acordei suspirando forte e me dei conta que estava dormindo com o iPod e que na verdade quem cantava era Elvis Costello e nao você. Triste realidade.